quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Aves em Vannes...



Após 4 dias de viagens e experiências gratificantes, fomos obrigados a ficar em Vannes por 5 horas até o horário de partida do ônibus que nos levaria de volta pra casa em La Roche Bernard. Então, Eu e Lourdinha resolvemos ir até o porto da cidade para descansarmos um pouco e distrair com a paisagem que o mesmo, gratuitamente, nos oferece...


E, para minha surpresa, fomos recebidos pelas aves marinhas que lá habitam. Quando Lourdinha resolveu comprar um sandwich então, a festa foi geral. A cada migalha estrategicamente jogada no chão, as aves praticamente "brigavam" pelo alimento...



E assim seguia o "balet" das aves no porto de Vannes... A câmara fotográfica precisava estar constantemente à mão para que momentos como esse não fossem perdidos...






Com o passar do tempo e o fato de as aves agora já saberem perfeitamente que dois indivíduos estavam proporcionando alimentação gratuita, eis que surge o "dono do pedaço"!!! Essa ave não permitiu que as outras se aproximassem e, literalmente, apossou-se do espaço de "engorda"...




Foi uma tarde divertida. E bela, como as asas desse pássaro marinho...



Carnac

Através dos monumentos pré-históricos megalíticos deixados pelos Celtas, é na Bretanha que a história dos gauleses encontra-se mais bem preservada. Só na região de Carnac são mais de 3000 pedras propositalmente arrumadas pelos gauleses, entre 5000 e 2000 a.C., com algumas chegando a pesar 350 toneladas...

Existem 3 tipos de construções desenvolvidas por essa civilização:

O "Menhir" (do bretão Men, pedra e hir, longa), que era colocado sobre um "olho d'água" ou próximo de uma tumba. Supõe-se que os alinhamentos colocados em linha têm sentido religioso; uma forma de cultuar o sol e lua. Os Menhires isolados são os mais difíceis de serem interpretados.

O "Cromlech" (do bretão crom, redondo e lech, pedra), como os de Carnac, eram feitos em semicírculo ou em círculo, em torno de uma pedra maior, parecem ter finalidade astronômica ou religiosa.

Os "Dolmens" (do bretão dol, mesa e men, pedra), são considerados câmaras funerárias com galeria de acesso ao túmulo.

Alinhamento de Ménec - Carnac


Menhir do Alinhamento de Ménec - Carnac

Alinhamento de Kermario - Carnac

Dolmen de Kermario - Carnac

Dolmen de Kermario (ângulo oposto) - Carnac

Detalhe de Menhir do Alinhamento de Kerlescan - Carnac

Detalhe de Menhir do Alinhamento de Kerlescan - Carnac

Detalhe de Menhir do Alinhamento de Kerlescan - Carnac

Le Géant du Manio - Carnac

Le Géant du Manio (ângulo oposto) - Carnac

Le Quadrilatère - Formação lateral ao "Géant du Manio" - Carnac

Belle-Île en Mer


Situada na costa da Bretanha, é a maior ilha francesa dessa região. Possui 4 cidades principais: Les Palais e Sauzon (os dois portos de chegada de Quiberon, a cidade de acesso no continente), Locmaria e Bangor. Existe ainda mais de uma centena de pequenos vilarejos, aglomerados de casas que quase conurbam toda a ilha...


Não precisam saber mais que isso... Devem apenas observar as fotos e absorverem as maravilhas que a ilha me mostrou. Boa viagem...


Um dos dois faróis situados na entrada do canal de Les Palais



Amanhecer no porto



Pescador retornando do mar ao amanhecer




Les Aiguilles de Port Coton - Indescritível e imensuravelmente belo. Talvez seja por isso que Claude Monet imortalizou essas formações rochosas...

Contrastes da ilha: O centro evidencia planícies com fazendas que parecem não existir, tamanha a beleza natural!!!

A costa voltada para Oeste recebe os ventos mais fortes. Quando o tempo fecha a ira das ondas é despejada nos rochedos...

Castel Clara - Hôtel Thalassothérapie Relais & Châteaux: http://www.castel-clara.com/

Côte Sauvage - Quando estava aqui, o mau tempo fez com que o vento viesse do mar com uma força descomunal. Algo em torno de 120Km/h. Sem dúvidas, o momento que mais gostei de todo o passeio pela ilha.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

feliz 2 de Janeiro...

O 2 de Janeiro chegou meio que ansioso, como eu. Todos os planos e cardápios que foram formulados na noite anterior caíram por terra. Mais pela impossibilidade de concretização por se tratar apenas de um dia de trabalho do que pela necessidade que eu tinha em montar um Menu digno e extenso às minhas duas companheiras de aventuras francesas: Lourdinha, minha Titia por afinidade e Mariana, minha eterna Pequena. Elas o mereciam, mas apenas eu não era capaz de produzi-lo sem que as mesmas percebessem todo o processo. Queria que fosse uma surpresa. Então teria entre 19h00 e 01h00 para fazer o jantar, tempo em que elas estivessem trabalhando... Optei por pratos rápidos, leves, devido ao avançar das horas mas, ao mesmo tempo, delicados e sofisticados... Não poderia jamais decepcioná-las, mesmo porque vários eventos seriam consagrados naquela noite. O primeiro e mais importante, celebrarmos nosso primeiro encontro à mesa, juntos. O segundo, o fato de ser o último dia de trabalho delas antes das duas semanas de férias das quais teriam direito. Pessoalmente, eu comemorava o fim de um estágio de 8 meses e o começo de um mês de descanso e viagens pela França... Como não podia perder tempo, fiz as compras na parte da tarde e, entre um supermercado e uma casa de frutos do mar, entrava com as compras em casa e deixava tudo bem guardado. Como um excêntrico Chef de Cuisine francês e com o dedo em riste, bradava às duas que jamais ousassem “bisbilhotar” o que havia nas sacolas... Acho que as deixei inibidas e elas se comportaram corretamente... Assim que partiram, comecei minha maratona contra o tempo e contra um “fumet de poisson” que levaria preciosas horas de meu tempo. Pra quem não sabe, o termo citado, à grosso modo, é o mesmo que “um caldo feito à partir das aparas de peixes, cascas de camarão, lagostim, ou seja, tudo que é sobra e que você normalmente jogaria fora”; mas que confere um sabor maravilhoso ao produto final. Como tinha comprado filet de Sole (parecido com o Linguado só que pequeno), Langoustines, Coquille Saint-Jaques (o mesmo que Vieiras) e Surimi (um produto indurstrializado que dizem ser apenas carne de Siri mas que leva outras coisas, além de alguns conservantes), a base de meu fumet de poisson seria as aparas de Sole, as cascas de Langoustines e as aparas do Saint-Jacques. Isso acrescido de cenoura, cebola, salsão e pimenta do reino em grãos salteados rapidamente na manteiga. Digo rapidamente pois o fumet de poisson deve ser claro. Depois de tudo misturado e salteado, coloca-se água e vinho branco seco em fogo baixo para que os sabores e aromas dos frutos do mar sejam liberados... e o processo é lento, viu!!! À medida que o líquido vai liberando uma espuma na superfície, a mesma deve ser retirada. Se o líquido reduzir rapidamente, acrescenta-se mais água e vinho até que a consistência do fumet fique no ponto exato de finalizá-lo. Depois de umas 4 horas é que desliguei o fogo, coei bem o fumet e leve-o à outra panela. Agora é que iria aquecê-lo novamente, temperá-lo e deixá-lo reduzir o ponto necessário... Ao mesmo tempo em que produzia o fumet, já deixei pronto todo o mise en place (tudo que você pode preparar com antecedência para agilizar o processo de trabalho). Deixei pronto também o recheio das entradas. Quando olhei no relógio, relaxei... eram 11 da noite; fumet pronto, entradas prontas, redução do Saint-Jacques pronta, Coulis da sobremesa pronto e a fruta da sobremesa já marinando por 4 horas no Vinho do Porto... Vocês não têm idéia de como cozinhar é bom!!! Antítese de sensações... Remédio certo anti-stress, relaxante e ao mesmo tempo estimulante, meu ópio... Como Lourdinha só chegaria meia noite e a Pequena uma da manhã, ainda tinha tempo de sobra. Lourdinha conseguiu chegar às 23h30 e a Pequena só terminou seu trabalho 01h30. E o pior é que ela veio acompanhada da Mme. Marie-Noël, funcionária do restaurante. Veio jogar “conversa fora” à uma da manhã!!! E eu já louco pra servir o jantar e garantir o prazer das minhas meninas... Eu tentava de todas as formas olhar pra Lourdinha e pra Pequena pra ver se elas desconfiavam e “despachavam” a Mme., mas estava complicado. Com muito custo, a digníssima se foi... Agora sim, estava à vontade pra começar a apresentar o que de melhor estava por vir na noite. As meninas, já desesperadas de fome, sentaram-se à mesa e puderam degustar, de entrada, endívias recheadas com gorgonzola, mexerica, pêra, croutons (pão de forma cortados em cubos pequenos e assados), alho tostado, amêndoas filetadas salteadas na manteiga, cebola crua, azeite extra-virgem, pimenta do reino e “fleur de sel de guérande” (sal da região de Guérande, que não é esmagado nem lavado, de sabor incomparável).

Pra acompanhar essa entrada e também os pratos principais eu escolhi um espumante da região do Vale do Loire: Crémant de Loire Brut – Domaine Eric Blanchard. Uma assemblage (mistura) de várias uvas, entre elas Chenin, Chardonnay, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Pineau d'Aunis. Uma bebida que promove um agradável frescor na boca e harmoniza bem em várias ocasiões, tanto é que pode ser continuado nos outros pratos...

Após a entrada e infindáveis elogios e elocuções, servi o primeiro prato: Coquille Saint-Jacques grelhado e temperado apenas com “Fleur de Sel de Guérande Aux Aromates et Condiments”. Acompanhando, fiz uma redução do fumet de poisson com vinho do Porto. Voilá!!! Tive sorte e casou perfeitamente a delicadeza do sabor do Saint-Jacques com a potência do Porto...
As meninas degustavam com prazer e, entre um prato e outro, eu me equilibrava e calculava o tempo exato para que o próximo fosse servido...


Depois de um certo tempo, finalizei o segundo prato. Como bom mineiro, diria que fiz um bom “mexidão”. Mas a ocasião não permitia que dissesse isso!!! Hehehe... Na pior das hipóteses, uma Paella franco-brasileira!!! Na verdade, o prato não tinha nacionalidade pois inventei ele na hora.
Servi uma seleção de 3 arroz (Arroz grão longo, Arroz Vermelho do Mediterrâneo e Arroz Selvagem) com pequenas postas de filet de Sole, Langoustines , Surimi e amêndoas filetadas. Em vez de usar água para o cozimento, utilizei o fumet de poisson. E continuamos no Crémant de Loire...

Após esse prato, fizemos um breve intervalo para que as meninas pudessem respirar um pouco. Até porque o que elas mais estavam esperando ainda estava por vir. Acho que é mal de mulher: a Sobremesa!!! Ainda não encontrei até hoje mulher sequer que não se derreta por uma sobremesa bem feita. Mais um motivo para que eu caprichasse na “grande finale”. Apresentei a elas figos turcos embebidos por 4 horas em Vinho do Porto, acompanhados de um Coulis (calda) de geléia de morangos e Sweet Chili Sauce For Chicken (molho asiático agridoce apimentado). Meu amigo Dr. André Soares Rodrigues diria, com certeza: “Ô Lucio, só você mesmo pra fazer essas combinações!!! Geléia de morango com molho apimentado pra aves”... hehehe... Mal sabe ele que o produto final ficou à altura das minhas convidadas...

Ao mesmo tempo da sobremesa, resolvi entrar com a degustação dos queijos (até pra tentar, forçosamente, relembrar a nossa boa e velha “goiabada com queijo”). Os referidos queijos foram o Brie, o Camembert e o Fourme d’Ambert, todos eles feitos à partir de leite de vaca.

Para acompanhar os queijos e a sobremesa, escolhi o Gewürztraminer Hugel Vendage Tardive 1998. Um vinho de sobremesa em homenagem à região da Alsace, onde trabalhei...
Pronto!!! Estava concretizado o “repas” de boas-vindas, de bons fluidos, de boa sorte a todos nós... eu, feliz com o dever cumprido e minhas meninas, em transe com o momento degustativo que presenciaram e souberam explorá-lo ao máximo...

Às vezes percebo minha mente falando sozinha, sobre determinados assuntos, mas entendo o porquê de isso acontecer: é que quero sempre oferecer o melhor aos que estão ao meu redor; quero sempre fazer com que eles se sintam felizes e, por conseguinte, isso me torna uma pessoa mais feliz...

Obrigado Titia Lourdinha por você estar aqui ao meu lado hoje, aturando minhas mudanças de humor!!!...

Obrigado Pequena, por tudo que você é pra mim, Simples Assim...

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

les grosses valises de la vie...


A última semana de trabalho foi de surpresas. Tudo que havia me consumido durante 7 meses e 20 dias transformou-se em um ócio necessário. Não por mim, pois queria manter o ritmo frenético para que os dias passassem rápido. Mas o que me pareceu acontecer foi uma mescla de “última semana de trabalho de todos os funcionários” aliado ao fato da “última semana de trabalho do estagiário Lucio”... Fui, entrelinhas, dissimuladamente, poupado... E não terei nenhum pudor em dizer que isso me deu prazer!!! Senti-me dono da situação... As ordens já não me eram impostas com a veemência diária... Mesmo assim eu continuava em meu ritmo normal, ritmo de estagiário de Arnsbourg... Como meu tempo fazia-se superior ao novo tempo imposto pelos meus “comandantes”, forçava-me a criar hiatos em minha jornada de trabalho. Coisas do tipo: “Lucio, por favor, não fique parado aqui!!! Encontre qualquer coisa pra fazer. Desça, vá pra outro lugar, procure algo; mas não fique aqui pois se o Chef aparecer vai reclamar!!!” hehehe... Nesse momento, regozijava-me de prazer interior... Lucio, o estagiário brasileiro, que nos primeiros meses de trabalho sempre foi questionado por não conseguir seguir o ritmo frenético dos franceses, há muito tornou-se rápido e eficaz em seus afazeres e, agora desafiava a ociosidade dos últimos dias do Restaurante l’Arnsbourg, prestes a fechas suas portas para as férias de um Janeiro frio de inverno...

Paralelamente ao meu gozo momentâneo, percebi que estava, nesse momento, perdendo a coisa mais importante que havia me acontecido nesse ano de 2007. Foi o suficiente para que minha mente entrasse em ebulição e calterizasse qualquer pensamento que fosse contrário a ela. Toda essa minha estória, que tem início em Maio, ganhou força ao longo dos meses e, sem perceber, absorveu-me de tal forma que, mesmo de olhos fechados, via-me preso à esse sentimento. Era um ciclo que estava se fechando e que eu não faria parte nunca mais. Mas, entrementes, tinha a certeza de que momentos felizes superaram a dor da perda momentânea, a falta de algo que eu queria muito e nunca poderei ter...

Quando abri os olhos para a realidade, já me encontrava no dia 30 de Dezembro de 2007, 23h00 e sem nenhum resquício de sono que me empurrasse para a cama. Malas arrumadas há 4 dias, check-list feito e revisado; bastava colocar a cabeça no travesseiro e esperar um 31 que seria longo e exaustivo... E podem ter certeza que ele foi; se foi...

Dormi às 02h30 para acordar às 05h30. Após a excitação dos últimos momentos em Arnsbourg, já me via lutando bravamente para descer com minhas duas malas de mais de 50 quilos cada. Três andares de escadas; eu disse três... não fosse a benevolência do estagiário Mathieu (que foi quem me levou à Gare de Niederbronn) em me ajudar a descer os dois últimos lances de escada, a epopéia poderia ser acrescentada como sendo o décimo terceiro trabalho de Hércules...

Malas no carro e o último espresso duplo pra “segurar a onda”. Ok!!! Estamos prontos...

Não!!! Não estamos prontos!!! Havia me esquecido que tinha deixado uma Champagne na geladeira do restaurante pra tomar com os funcionários e que não o fiz no dia anterior. Para presentear a boa vontade de Mathieu em me dar uma carona, brindamos meu último momento em Arnsbourg em grande estilo: uma Champagne Gosset Brut Grande Réserve...

Niederbronn Les Bains 07h03 – Strasbourg 08h04: sem nenhum problema, até porque o problema estava por começar...

Strasbourg 08h16 – Paris (Gare de l’Est) 10h34: como perceberam, tinha apenas 12 minutos para sair do trem de Niederbronn e embarcar no próximo para Paris. Fácil descer as escadas de uma plataforma, passar pelo túnel e subir as escadas pra outra, de onde sairia o trem. Não fossem as duas malas “malas” e uma mochila de mais de 10 quilos nas costas. Minha sorte foi o fato de o elevador da estação estar funcionando (geralmente está desligado). Viagem normal, com exceção da parada repentina do trem no meio do “nada”, a 15 minutos de Paris (pane geral no sistema de energia do veículo). Cheguei em Paris às 10h50, já um pouco estressado com o peso descomunal das duas malas. Problemas passados, problemas superados. Comecei a degustar os novos que já batiam à porta. Ir da Gare de l’Est até a Gare Montparnasse. 15 Euros para transportar mais de 700 Euros em livros de Gastronomia. Até que não reclamei!!!

Paris 12h05 – Vannes 15h14: Meu maior desafio diário. Como cheguei à Gare por volta de 11h45, permiti-me um lanche rápido, nada mais que um croissant e um espresso duplo (a jornada ainda pedia mais café). 11h55 resolvi seguir para o Voie2, no qual saia o meu trem. Tolo que sou, não percebi o número do vagão. Era simplesmente o número 20, o penúltimo em relação ao começo da plataforma (ou de onde eu estava, tanto faz). Começo agora uma prova típica de uma Olimpíada Grega. Esforço físico, rapidez, coordenação motora... Um “burro de carga” não faria melhor o que fiz para não perder o trem... foram 3 paradas do início do trem até o respectivo vagão no qual iria entrar... eu não acreditei que algum dia poderia presenciar uma situação dessas... cada parada para recuperar as forças nas mãos se deveu ao fato de eu não ter mais forças nem empunhadura suficientes para agarras as malas e continuar empurrando as mesmas pelo chão... em todas as 3 vezes os dedos iam escorregando, anestesiados, suplicando por descanso... quando cheguei ao vagão 20, dois franceses que fumavam do lado de fora, só faltaram me cumprimentar pelo desafio vencido e presenciado ao longo da plataforma... de imediato, sem nenhum pudor, recrutei-os para que me ajudassem a subir os “monólitos” que acabara de arrastar por, pelo menos, uns 350 metros... a felicidade deles foi interrompida com esse meu ato!!! Menos de 2 minutos para a partida, vi-me encurralado no corredor de entrada. Todos os compartimentos de bagagem já estavam lotados. Tive que deixar os “encostos” ali mesmo, na porta do trem, bloqueando a saída de todos quando o trem fizesse suas escalas em Le Mans e Rennes, antes de findar seu trajeto até Vannes. Tomei meu lugar no assento 56 (claro, de costas para o corredor onde minhas malas estavam). O que me fez virar de vez em quando para constatar que as “aberrações” estavam intocadas. Até que me senti incomodado com a situação e sai de meu assento, para compartilhar a viagem ao lado delas...

Vannes: cheguei sendo beneficiado pela plataforma (talvez uma ajuda superior). Da mesma plataforma que desembarquei já tive acesso à saída da Gare... Prontamente “esparramei-me” sobre uma mesa de um café, estacionei as “referidas” ao lado da mesa, saquei meu notebook e, ociosamente, esperei o ônibus que me levaria à La Roche Bernard às 18h25. Exatamente, cheguei à Vannes às 15h14 e meu ônibus saia às 18h25 para La Roche Bernard, meu ponto final... Três horas e onze minutos de muita paciência e meditação budistas...

Depois de um ônibus e uns 40 minutos de viagem, finco minha bandeira em La Roche Bernard, na região da Bretagne, às 19h05. Pra ficar esteticamente mais interessante, arredondo dizendo que foram 13 horas de muita aventura e esforço físico e mental...

Pra quem vivenciou quase 8 meses de estágio em Arnsbourg, o dia 31 de Dezembro foi um dia normal, como qualquer dia em que um viajante quase morreu em puxar suas malas...

Agora preciso de fôlego para o Reveillon... Porque o referido, pra mim e para as pessoas que fizeram estória atualmente em minha vida, só foi acontecer dia 02 de Janeiro... Logo logo irão entender perfeitamente o porquê de mudar essa data tão “importante” (SIC) para os seres humanos...

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

e foi Natal...

Após a viagem ao Europa Park fui comunicado pelo Chef Michel do convite do Chef Klein para jantar no Restaurant l’Arnsbourg, dia 24... Pronto, estava completa minha última semana de trabalho. Teria o prazer de degustar os pratos que ajudei a fazer durante mais de 7 meses. Fiquei muito feliz com a notícia...

Um dia após, mudaram a data de meu jantar. Como Mariana iria partir dia 22, pela manhã, resolveram que jantaríamos juntos na sexta-feira, dia 21. Perfeito! Um jantar com a minha Pequena, com quem compartilhei todos os meus momentos (bons e ruins) aqui na França, desde Maio. Meu porto seguro, minha companheira, minha confidente, minha vítima dos chocolates roubados... Sem detalhes, só poderei dizer que foi uma noite inesquecível para mim e para ela, com certeza!!!

Esquecendo os problemas passados, de qualquer forma, a semana seguia em ritmo acelerado... Como o restaurante não abriria dia 24 e algumas pessoas (Eu, Erwin, Kasma, Endo e Jeremy) passariam o Natal sem festa, o Chef Klein resolveu nos presentear com um jantar. Madame Katty, irmã do Chef Klein e responsável pelo salão, montou uma mesa idêntica às feitas aos clientes habituais...


Descemos dos quartos por volta das 18h30 e já estávamos no “aquecimento” quando Mme. Katty sai do salão dizendo que havia terminado de montar a mesa e colocado música ambiente. Além disso, nos presenteou com um Champagne Dom Pérignon Vintage 1999. Prontamente agradecemos toda a atenção que ela nos proporcionou e tratamos de dispensá-la o mais rapidamente possível, pois o que queríamos mesmo era o restaurante vazio pra gente “quebrar o pau”, afogarmos as mágoas das saudades que, agora, encontravam-se distantes, e ficarmos bastantes bêbados!!!

E nós soubemos nos proporcionar um jantar digno de nós mesmos!!! (perdoe-me Machado de Assis...)

De entrada fizemos, além de fatias generosas de presunto cru com folhas de menta, servimos ostras frescas e dois tipos de Flam’s: bacon & queijo e pesto.

Como primeiro prato, servimo-nos “foie gras d’oie avec chutney de figues et crispies de yaourt et framboise”


O prato principal foi um Filet Wellington (filet mignon envolto em foie gras e coberto por massa folhada) com redução do próprio suco da carne, legumes salteados na manteiga e purê de batatas... Influência alemã? Imagina...

Não podemos nos esquecer dos queijos ao final do “repas”. Ritual mais que sagrado na refeição dos franceses. Graças a eles pude degustar os melhores queijos do mundo durante esse tempo em que estive aqui. Um capítulo à parte que será tratado juntamente com os vinhos franceses...

Já a sobremesa... ahh, meus caros leitores!!! Perdoem-me a sinceridade mas a abundância de vinhos brancos, tintos, de colheita tardia, champagne... zzzzzzzzz... nem vi sobremesa... arrastei-me por dois andares de escadas até meu quarto pois no dia seguinte havia muito trabalho no reino encantado d’Arnsbourg...

E Papai Noel, em vez de me trazer algo, já havia me roubado dias antes meu presente de Natal... Só me restou a companhia do Dudu (decoração de Natal do Restaurant l’Arnsbourg; um urso que está presente em todos os lares franceses...)

um dia no parque... ou no circo?

escada de acesso ao Hotel K

Dezembro passou com uma rapidez tamanha que nem a neve teve tempo de mostrar sua beleza. Isso porque para que haja neve há a necessidade de temperaturas perto de zero grau.

casas atrás do Restaurante Arnsbourg


O que aconteceu durante todo o mês foi um frio que incomodava até os franceses. Alternâncias entre 6 e 11 graus negativos foram a tônica desse final de trabalho em Arnsbourg...



paisagem atrás do Restaurante Arnsbourg


Mas nem tudo são espinhos. Terça-feira, 18 de Dezembro, partimos em direção à Alemanha para visitarmos o Europa Park. Isso porque o Chef Klein promove lá, anualmente, a festa de Natal do Restaurant l’Arnsbourg e do Hôtel K. O parque fica na cidade alemã de Rust, a 120Km de Arnsbourg e gastamos pouco mais de 90 minutos para chegar. Ônibus fretado, hotel 4 estrelas, entrada gratuita no parque e jantar no restaurante do parque; tudo oferecido pelo Chef Klein, como forma de presentear sua equipe de trabalho que tanto faz por ele e pelo seu restaurante ao longo de todo o ano... Após todos devidamente acomodados em seus quartos (colocaram-me junto com o jovem Lucas), encontramo-nos no hall do hotel para que pudéssemos fazer um tour de reconhecimento do parque.


pátio interno do Hotel Colosseo

Após isso, seguimos em direção ao restaurante. No início do caminho, um cavaleiro nos recepcionou e foi nosso guia até a porta do estabelecimento. O restaurante e tudo que aconteceu ao longo do jantar são fatos dignos de um detalhismo textual. Foi um capítulo à parte nessa minha experiência na França...



Logo que chegamos, já na entrada, nossas mãos eram lavadas e deveríamos beber de um vinho que era nos oferecido dentro de um chifre de boi.



Ao sentarmos às mesas, deveríamos colocar nosso guardanapo, uma espécie de “babador” medieval. Cada cor representava uma personalidade diferente para quem o usava (o guerreiro, o romântico, a fortaleza, o sábio, e por aí vai)... Só depois que todos escolheram onde sentar-se é que eles disseram o significado de cada cor... O meu foi o vermelho e todos já sabem qual foi minha característica...
O Menu oferecido foi muito bem elaborado e agradou a todos os presentes.
Devido ao fato de o cardápio estar em alemão e eu estar num clima de despreocupação total em relação às curiosidades gastronômicas (queria apenas descansar e curtir o momento), não fiz questão de saber o que estava comendo; apenas me entreguei à degustação!!! Mesmo porque, o fato que mais chamou a atenção de todos não foi o cardápio e sim o modo como deveríamos saboreá-lo... Mesa posta: Copo de alumínio, prato de alumínio e uma faca... e só!!!
Não havia garfo!!! Isso mesmo, deveríamos comer tudo com as mãos... Situação um pouco desconfortável para a Madame Klein, uma mulher que exalava etiqueta e finesse... Teve que “engolir” seu orgulho e momentaneamente, transformou-se em uma plebéia medieval, que vorazmente empunhava uma coxa de pato e deixava escorrer entre lábios a cristalina gordura da gastronomia alemã... hehehe...

E a noite estava apenas começando... Entre um prato e outro, espetáculos nos eram apresentados pelo cicerone (um ser robusto e típico das extravagâncias gastronômicas alemãs, delatadas em sua região abdominal), por músicos e por um “bobo da corte”...


Quanto mais vinho, mais coração!!! Quanto mais coração, mais verdades são expostas... Como diz o ditado: “In Vino Veritas” – No vinho está a verdade...


Lucas & Chef Klein

Já no meio do evento, as pessoas começaram a se libertar do stress diário que o trabalho os impunha e, num piscar de olhos, atitudes extravagantes tornaram-se coisa normal no repertório da noite...

Lucas & Louis se divertindo...

Eu, reservado como sempre, câmera fotográfica estrategicamente preparada, contentei-me em relatar toda a pantomima que meus olhos agora absorviam...

Pierre & Claire já nas "alturas"

A pausa é necessária para compreender as fotos. Não direi nada. Cada um de vocês que tomem suas próprias conclusões... Chef Klein entrou “na roda” e fez discurso... Madame Klein, a mais nova plebéia gordurosa, agora encontrava-se sentada ao chão, atrás da própria mesa, embriagada pelos seus pecados capitais (a Mariana tirou a foto mas eu me esqueci de copiá-la)... Sem falar no "calor humano" que fez com que roupas fossem tiradas sem nenhum pudor... Bizarro... kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk...




A noite se seguiu em ritmo frenético e fomos ao bar do Hotel Colosseo. Fui dormir às 04h00 para acordar às 09h45 (o café da manhã acabava às 10h00). Não quis acordar Lucas e depois ele quase me matou por não ter feito isso e por ele ter perdido o café da manhã que o proporcionaria, com certeza, mais alguns quilos...
Após o café seguimos em direção ao parque para visitá-lo...



Pra quem gosta de parques, uma experiência singular e maravilhosa.



Pra mim que não vejo nada de mais nessas megalomanias de primeiro mundo, foi apenas prazeroso o passeio...



Mas pelas fotos podem perceber a grandiosidade do lugar e a variedade de opções para satisfazer tanto rebentos quanto adultos que gostam de resgatar seu lado infantil...